recebi o texto abaixo de uma amiga em 2008 e como guardo tudo, guardei esse também e agora vou compartilhar com vocês.
Bunda mole é?
Belinha acordou as seis, arrumou as crianças, levou-as para
o colégio voltou para casa a tempo de dar um beijo burocrático em Artur, o
marido, e de trocarem cheques, afazeres e reclamações. Fez um supermercado
rápido, brigou com a empregada que manchou seu vestido de seda, saiu como
sempre apressada, levou uma multa por estar dirigindo com o celular no ouvido e
uma advertência por estacionar em lugar proibido, enquanto ia, por um minuto,
ao caixa automático tirar dinheiro. No caminho do trabalho batucava ansiedade
no volante, num congestionamento monstro, e pensava quando teria tempo de fazer
a unha e pintar o cabelo antes que se transformasse numa mulher grisalha.
Chegando ao escritório, foi quase atropelada por uma gata escultural que, segundo
soube, era a nova contratada da empresa para o cargo que ela, Belinha, fez de
tudo para pegar, mas que, apesar do currículo excelente e de seus anos de
experiência e dedicação, não conseguiu. Pensou se abdômen definido contaria
ponto, mas logo esqueceu a gata, porque no meio de uma reunião ligaram do
colégio de Marcinha, sua filha mais nova, dizendo que ela estava com dor de
ouvido e febre. Tentou em vão achar o marido e, como não conseguiu, resolveu
ela mesma ir ate o colégio, depois do encontro com o novo cliente, que se
revelou um chato, neurótico, desconfiado e com quem teria que lidar nos
próximos meses. Saiu esbaforida e encontrou seu carro com pneu furado. Pensou
em tudo que ainda ia ter que fazer antes de fechar os olhos e sonhar com um
mundo melhor. Abandonou a droga do carro avariado, pegou um táxi e as crianças.
Quando chegou a casa, descobriu que tinha deixado a porra da pasta com o
relatório que precisava ler para o dia seguinte no escritório! Telefonou para o
celular do marido com a esperança que ele pudesse pegar os malditos papeis na
empresa, mas a bosta continuava fora de área. Conseguiu, depois de vários
telefonemas, que um motoboy lhe trouxesse a porra dos documentos. Tomou uma
merda de banho, deu a droga do jantar para as crianças, fez a porcaria dos
deveres com os dispersos e botou os monstros para dormir.
Artur chegou puto de uma reunião em São Paulo , reclamando de
tudo.
Jantaram em silêncio.
Na cama ela leu metade do relatório e começou a cabecear de
sono.
Artur a acordou com excitação, a fim de jogo. Como aqueles
movimentos estavam cada vez mais raros no casamento deles, ela resolveu fazer
um ultimo esforço de reportagem e transar. Deram uma meio rápida, meio mais ou
menos, e, quando estava quase pegando no sono de novo, sentiu uma apalpadinha
no seu traseiro com o seguinte comentário:
─Ta ficando com a bundinha mole, Belinha (...) deixa de
preguiça e começa a se cuidar...
Belinha olhou para o abajur de metal e se imaginou
martelando a cabeça de Artur ate ver seus miolos espalhados pelo travesseiro!
Depois se viu pulando sobre o tórax dele ate quebrar todas as costelas! Com um
alicate de unha arrancou um a um todos os seus dentes depois lhe deu um chute
tão brutal no saco, que voou espermatozoide para todos os lados!
Em seguida usou a técnica que aprendeu num livro de
auto-ajuda: como controlar as emoções negativas. Respirou três vezes
profundamente, imaginou a cor azul, e ponderou, não ia valer a pena, não
estamos nos EUA, não conseguiria uma advogada feminista caríssima que fizesse
sua defesa alegando que assassinou o marido cego de tensão pré-menstrual...
Resolveu agir com sabedoria.
No dia
seguinte, não levou as crianças ao colégio, não fez um supermercado rápido, nem
brigou com a empregada. Foi para uma academia e malhou duas horas. De lá foi
para o cabeleireiro pintar os cabelos de acaju e as unhas de vermelho. Ligou
para o cliente novo insuportável e disse tudo que achava dele, da mulher dele e
do projeto dele. E aguardou os resultados da sua péssima conduta, fazendo uma
massagem estética que jura eliminar, em dez sessões, a gordura localizada.
Enquanto se hospedava num spa, ouviu o marido desesperado
tentar localiza-la pelo celular e descobrir por que ela havia sumido
pacientemente não atendeu. E, como vingança e um prato que se come frio, mandou
um recado lacônico para a caixa postal dele.
─ A bunda ainda esta mole. Só volto quando estiver dura.
Um beijo da preguiçosa...
Extraído
do livro: Este sexo e feminino – de Patrícia Travassos.
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